Ela e ele.


Ela acordou, ele acordou. Ela disse algo, ele respondeu. Ela tomou banho, ele fez o café. Ela se vestiu, ele se vestiu. Ela pegou as chaves, ele pegou uma pasta. Ela sentou no carro, ele sentou no carro. Ela saiu, ele dirigiu. Ela trabalhou, ele trabalhou. Ela conversou, ele digitou. Ela saiu, ele saiu. Ela almoçou, ele almoçou. Ela voltou, ele demorou. Ela trabalhou, ele voltou. Ela se maquiou, ele arrumou o cabelo. Ela escreveu algo, ele riu de algo. Ela saiu, ele saiu. Ela esperou, ele chegou. Ela entrou, ele sorriu. Ela sorriu, ele disse oi, ela disse oi. Eles se beijaram. Ela saiu, ele saiu. Eles subiram. Ela tirou o casaco, ele tirou os sapatos. Ela trocou o pijama, ele arrumou alguns papéis. Ela falou no telefone, ele entrou no computador. Ela desligou o telefone, ele desligou o computador. Ela brincou, ele riu. Ele fez o jantar, ela comeu, ele comeu. Ela disse algo, ele respondeu. Ela pediu algo, ele fez. Ela tomou banho, ele colocou o pijama. Ela sentou, ele sentou. Ela ligou a televisão, ele leu o jornal. Ela desligou a televisão, ele pegou a correspondência. Ela viu as contas, ele viu as cartas. Ela reclamou, ele ignorou. Ela continuou falando, ele falou algo. Ela se calou, ele se irritou. Ela ignorou, ele gritou. Ela gritou, ele continuou gritando. Ela chorou, ele bateu. Ela gritou, ele gritou. Ela saiu, ele arrumou as malas. Ela chorou, ele saiu. Ela voltou, ele esperou. Ele voltou, ela se desculpou. Ele se desculpou. Eles se beijaram. Ela dormiu, ele dormiu.

Você está bem?


Perguntaram-me se eu estava bem. E eu disse que sim. Perguntaram-me novamente se eu estava bem. E eu disse que sim. E perguntaram-me se eu estava bem. E não, não estou bem. Eu percebi que estou perdida, isolada nos meus pensamentos, estou querendo gritar, estou vendo meus defeitos, eu não estou acreditando no que eu posso ser capaz de fazer. Eu percebi que estou louca, cansada, desgastada, o tempo me deixou marcas que eu não consigo apagar. Eu percebi que estou com falta de ar. Eu percebi que estou mal, estou doente, estou explodindo, estou acorrentada ao meu passado, estou me deixando ser levada por pensamentos fixos por outros em mim. Eu percebi que estou querendo chorar. Eu percebi que estou num quarto escuro e fechado, sem saída. Eu percebi que estou à beira de um derrame. Eu percebi que minha mente está em colapso. Eu percebi não sei porque eu sorrio aos outros quando eu queria aparentar tristeza; talvez até pânico. Eu percebi que eu respondo "Estou bem" quando na verdade, estou à beira da loucura. E eu percebi que eu deveria ter respondido que não a muitas coisas que, por costume, eu respondi que sim. Eu percebi que aquela briga poderia ser evitada se eu não tivesse me irritado tanto. Eu percebi que eu me deixei levar por coisas supérfluas, que não influenciam na pessoa que eu me tornei hoje. E eu percebi que me tornei a pessoa que sou hoje sem ter culpa de ser quem sou. Eu percebi que em muitas vezes que eu disse não saber o que responder, na verdade, eu sabia exatamente. Eu percebi que deveria ter dito que sim a muitas coisas que, por costume, eu disse que não. Eu percebi que eu sinto mais do que eu expresso. Eu percebi o quanto eu poderia ter sido quem eu sou. Eu percebi que eu não sei o que eu vim fazer nesse mundo, e percebi que nasci no lugar errado. Eu percebi que não importa o quanto eu tente lutar contra a minha tristeza, ela simplesmente não vai embora, independente do que eu faça. Eu percebi que quanto mais triste eu estou, mais falso é o meu sorriso. E eu percebi que estou farta dessa multidão de ordens que eu recebo de mim mesma. Mas, novamente, eu disse que estava bem.